quarta-feira, 31 de agosto de 2016

193 livros: IRÃO





País: Irão
Livro: Persépolis
Autor: Marjane Satrapi
Fonte: Biblioteca S. Lázaro ou Olivais - Lisboa
Pontuação: 10/10
Pesquisar sobre: revolução islâmica iraniana, Irão atual


Persépolis é uma banda desenhada, autobiográfica, que retrata a vida da autora desde a sua infância até ao início da idade adulta.
Quando ela tinha 10 anos, deu-se a revolução islâmica no seu país, o Irão, e ela viu-se obrigada a usar o véu e andar numa escola apenas feminina. Nascida num família culta e moderna, acompanhou de perto este processo de transição política, tendo-se de se sujeitar à repressão e opressão a que todos os iranianos foram sujeitos durante várias décadas.  Já adolescente rumou à Europa para estudar, tendo uma experiência também traumática. 
Adorei esta história porque é realmente muito sincera, honesta e íntima, mas simultaneamente consegue-se perceber o contexto mais macro e histórico. É um livro que se lê muito rápido e que vale muito a pena. Agora fiquei curiosa para ver o filme... e para saber o que aconteceu depois na vida da Marjane, uma miúda com muito humor e muita consciência.

 
 

sexta-feira, 29 de julho de 2016

193 livros: COSTA DO MARFIM

 
 
 
País: Costa do Marfim
Livro: Alá não é obrigado
Autor: Ahmadou Kourouma
Fonte: Biblioteca S. Lázaro ou Olivais - Lisboa
Pontuação: 7/10
 
 
Este livro conta a história de Birahima, que rapaz que assiste à morte da mãe (que teve uma vida tortuosa) e que, para sobreviver, sai da sua aldeia para procurar a tia que vive na Libéria, e que é a única pessoa que pode cuidar dele. No entanto, nunca chega a encontrá-la, e passa a ser uma criança-soldado. 

Da Costa do Marfim à Serra Leoa, passando pela Libéria, irá passar por diversos grupos de guerrilha ou fracções, liderados por figuras sádicas, violentas e surreais. 
 
A verdade é que é uma realidade muito específica, real mas difícil de imaginar, em que as crianças, consumidoras de drogas, acabam por ser tão cruéis como os adultos. Mas no fundo é apenas a luta pela sobrevivência no meio do caos e da violência.
 
Acaba por ser também um livro político (parece que pelo meio o autor se esquece que o narrador é uma criança), com uma contextualização histórica e onde a certa altura se percebe os negócios, esquemas e alianças e traições entre criminosos e políticos.

Gostei muito da linguagem e a escrita. A personagem principal decide contar a sua biografia, com a ajuda de alguns dicionários, e assim vai fazendo a tradução de muitas expressões do "africano indígena" para o francês e vice-versa, mas com muita piada.

 "Se Alá não é obrigado a ser justo com os seres a quem dá vida", temos de aguentar e aceitar o que a vida nos dá.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

193 livros: FRANÇA





País: França
Livro: Os olhos amarelos dos crocodilos
Autor: Katherine Pancol
Fonte: comprado
Pontuação: 7/10


Esta é a história contemporânea de duas irmãs, já adultas, que vivem em Paris.

Uma (Iris) é bonita, rica elegante, mas vive desencantada com a vida e com o seu casamento. A outra (Joséphine) é uma intelectual, historiadora, com uma vida mais complicada, até porque tem 2 filhas e anda sempre com a corda na garganta para pagar as contas. 
 
Um dia, Iris faz-se passar por escritora e como fica presa na mentira, tenta convencer a irmã a escrever o livro para ela própria assinar. Como está meio desespera a outra aceita e isso vai mudar as suas vidas. 


Gostei deste livro porque representa muito a pressão atual que existe sobre as mulheres, ou melhor, sobre a tentativa que sejamos todas supermulheres, que temos de ter sucesso no trabalho, na vida familiar, na vida amorosa, na vida social, e tudo ao mesmo tempo... o que é impossível.
 
É uma leitura levezinha, boa para a praia, mas interessante.

terça-feira, 26 de julho de 2016

193 livros: ARGÉLIA


País: Argélia
Livro: O que o dia deve à noite
Autor: Yasmina Khadra
Fonte: Biblioteca S. Lázaro - Lisboa
Pontuação: 8/10
A aprofundar: Guerra civil argelina, processo de descolonização


"O que o dia deve à noite" é o livro que representa a Argélia, retratando o período colonial entre 1936 e 1962.




Este livro narra a história de Younes/Jonas, um rapaz que vive numa aldeia com a família, mas por causa de alguns infortúnios são obrigados a migrar para os subúrbios infernais de uma cidade. Como a vida continua a correr mal a esta família, o menino é adotado pelo tio, que lhe dá educação, outro nível de vida e outra morada, num sítio bem mais simpático. 

Vamos acompanhando o seu crescimento, as aventuras e desventuras do seu grupo de amigos e a sua história de amor muito atribulada, a par das convulsões políticas e inclusive guerra civil, que marcaram o período de independência do país face à França.

Neste livro, ficam no ar as dicotomias entre classes sociais, entre colonizadores e colonizados, entre muçulmanos e cristãos. Há referência às questões da honra e do dever, ao sentimento de não-pertença, à questão da identidade,...


Jonas acaba por não cumprir o seu "destino amoroso" porque não quer trair o amigo e todo o contexto em que vive. Apetece ao longo da história "abaná-lo" e encaminhá-lo para a ação.

O título só se percebe no final do livro, porque é a sensação com que se fica no final, a interrogação mantém-se além da história. 

Resumindo, gostei muito deste livro e fiquei muito curiosa para investigar mais sobre o processo de independência da Argélia. 



Citação para refletir:
"Cada homem é o seu próprio deus. É ao escolher outro que se renega e se torna cego e injusto". 

terça-feira, 19 de julho de 2016

193 livros: ARGENTINA







País: Argentina
Livro: Diários de Motocicleta
Autor: Ernesto Che Guevara
Fonte: comprado
Pontuação: 8/10
Apetece-me procurar mais sobre: Che Guevara, Revolução cubana



Este livro é o diário de Che Guevara, em que relata a viagem que fez com o seu amigo Alberto Granado pela América do Sul, em mota, nos anos 50.

Ainda jovem e estudante de medicina, esta viagem transformou-o. Ao tomar conhecimento com a realidade social sul-americana, desenvolveu ou apurou o seu lado de justiceiro e revolucionário político.

Eu, que sempre sonhei em viajar pela América Latina, gostei muito do livro.


segunda-feira, 18 de julho de 2016

193 livros: CHINA II



País: China Livro: Cisnes Selvagens Autor: Jung Chang Fonte: alfarrabista Pontuação: 10/10





O livro "Cisnes Selvagens", da autoria de Jung Chang, conta a história de 3 gerações de mulheres de uma família chinesa durante o século XX, dando uma visão histórica e social muito precisa, e desconhecida para mim, da sociedade chinesa e do início do regime comunista.

É decididamente um dos livros da minha vida, fascinante e inesquecível.

Uma das passagens que mais me marcou foi o costume de enfaixarem os  pés das mulheres chinesas há algumas décadas atrás, que já tinha ouvido falar, mas não tinha ainda imaginado. Aqui fica a descrição apresentada no livro:


"O seu grande valor residia, porém, nos pés enfaixados, chamados em chinês «lírios dourados com oito centímetros»(san- tsun - gin- lian). (...) A visão de uma mulher a caminhar vacilantemente sobre uns pés enfaixados tinha supostamente um efeito erótico nos homens, em parte, sem dúvida, porque a vulnerabilidade dela despertava em quem a via um impulso protector.

Tinha a minha avó dois anos quando lhe enfaixaram os pés. A mãe, que também tinha pés enfaixados, começou por enrolar-lhe à volta dos pés uma tira de pano com cerca de seis metros de comprimento, dobrando todos os dedos, excepto o grande, para dentro e para debaixo da planta. Depois pôs-lhes uma grande pedra em cima, para esmagar o arco. A minha avó gritou de dor e suplicou-lhe que parasse, e a mãe teve de meter-lhe um pano na boca, para amordaçá-la. A infeliz desmaiou diversas vezes, devido à dor.


O processo demorava anos. Mesmo depois de os ossos terem sido partidos, os pés tinham de continuar enfaixados, dia e noite, em tiras de pano, pois no momento em que fossem libertados, tentariam recuperar. Durante anos, a minha avó viveu cheia de dores terríveis e constantes. Quando suplicava à mãe que lhe tirasse as faixas, ela chorava e dizia-lhe que isso arruinaria toda a sua vida futura, e que fazia aquilo pela felicidade dela.


Naqueles tempos, quando uma mulher casava, a primeira coisa que a família do noivo fazia era examinar-lhe os pés. Uns pés grandes, ou seja, uns pés normais, traziam vergonha para a casa do marido.(...)


O costume de enfaixar os pés foi introduzido na China há cerca de mil anos, segundo se diz por uma concubina do imperador. Além de a visão das mulheres a coxear sobre uns pés minúsculos ser considerada erótica, os homens excitavam-se a acariciar os pés enfaixados, que permaneciam sempre escondidos nuns sapatinhos de seda bordada. As mulheres não podiam tirar as faixas mesmo depois de adultas, pois os pés começariam a crescer novamente. Só à noite, na cama, lhes era possível aliviar temporariamente o tormento, afrouxando um pouco as tiras de pano. Calçavam, então, uns sapatos de sola macia. Os homens raramente viam nus uns pés enfaixados, que estavam geralmente cobertos de carne apodrecida e exalavam um cheiro horroroso quando se retiravam as faixas. (...) A dor era provocada não só pelos ossos partidos, mas também pelas unhas, que cresciam para dentro das pontas dos dedos.

Na realidade, os pés da minha avó tinham sido enfaixados precisamente na altura em que a prática estava prestes a desaparecer para sempre. Quando a irmã dela nasceu, em 1917, o costume tinha sido praticamente abandonado, de modo que conseguiu escapar ao tormento."  Jung Chang

segunda-feira, 11 de julho de 2016

193 Livros: CHINA




 



País: China
Livro: O diário de Ma Yan
Autor: Ma Yan e Pierre Haski
Onde o consegui: Alfarrabista
Pontuação: 9/10

"O diário de Ma Yan", publicado originalmente em 2002, retrata a vida de uma rapariga da China rural, que tem a sua vida, como estudante e como mulher, muito dificultada. Não é um romance, mas um relato verdadeiro.


O que Ma Yan mais deseja é continuar a estudar, com a finalidade de quebrar o ciclo de pobreza da família. Embora a escolaridade obrigatória seja de nove anos na China, principalmente as raparigas dos meios rurais deixam de estudar cedo, para ajudarem as suas famílias pobres.

Ma Yan e o irmão percorrem a pé cerca de 20km de casa à escola, onde vivem durante a semana, faça chuva ou sol, de dia ou de noite, sendo por vezes ainda assaltados no caminho. Comem basicamente arroz todos os dias, às vezes legumes ou pão e, muito excepcionalmente, sopa de carne. Ma Yan muitas vezes deixa de comprar comida para poder comprar material escolar. Quer sempre ser a primeira da turma, porque de outra forma não se acha merecedora dos esforços que a mãe doente faz por ela.

Uma vez uns jornalistas franceses foram à aldeia de Ma Yan. A mãe dela,analfabeta, e em desespero, entregou-lhes uma carta onde a filha manifestava a revolta por não poder continuar a estudar, bem como alguns diários que Ma Yan costumava escrever. A história de Ma Yan foi assim contada no Libération em 2002 e provocou uma onda de solidariedade entre os franceses, que contribuíram para um criar fundos para Ma Yan e outras crianças na mesma situação para que pudessem continuar a estudar. Este livro são os diários de Ma Yan com comentários do jornalista, que nos contextualiza e nos vai explicando esta realidade.

Encontrei este vídeo, de 2007, em que Ma Yan está prestes a ir para uma universidade francesa.